Quando Connen
sentou-se na poltrona em seu apartamento, a imagem em sua mente tornou-se cada
vez mais lúcida enquanto apreciava seu uísque 12 anos em frente à janela. Caía
uma chuva fina que deixava aquela tarde de outono ainda mais escura e fria do
que já seria.
Lembrava-se de uma
vida de conquistas e de vitórias, como um cavaleiro da idade média. Sentia o
aroma pútrido de seus inimigos e o som de tambores de batalha ao longe. Estes
momentos haviam passado há muitos séculos, mas ainda o acometiam de tempos em
tempos, aparentando cada vez mais nítidos conforme lhe passavam os anos... Um
filósofo do século 20 dizia que o mundo acabaria em guerras ou em nostalgia, e
neste momento Connen entendia com que sentimento isso havia sido dito.
Soltou a gravata
vermelha que utilizava, deitando-a sobre o braço da poltrona e colocou o copo
na mesa ao lado. Abriu a janela para sentir a brisa trazida pela chuva.
De súbito escureceu, e
a noite pareceu envolvê-lo quando sentiu o chão se abrir sob seus pés e ele
parecia cair eternamente. Todas as suas vidas passaram em frente a seus olhos,
cavaleiro, caçador de uma tribo, curandeiro, peregrino, alquimista... E ele
sentiu-se pleno, um único ser em todas as suas facetas. Tudo fazia sentido
naquele momento, enquanto se recuperava imerso em sua própria realidade,
voltava a sentir o solo em que se encontrava deitado e seus membros lentamente
paravam de formigar.
Apreciou por um
momento aquela súbita epifania, ainda no solo... Notou que a chuva começara a
entrar pela janela, e molhava o piso do apartamento. Ouviu um som no fim do
corredor, e notou que Manya acabara de entrar. Ela não entenderia o porquê de
seu contentamento enquanto caído no chão com as calças molhando devido à chuva,
mas ele preferiu não se importar com isso. Afinal, ainda havia metade da dose
de seu uísque no copo sobre a mesa.